AH! NORMAL...
(Ao Historiador André Oliveira)
Outro dia caminhando por uma das
calçadas da Rua Torres Câmara, lembrei-me de Bertran Roussel; e o leitor há de
perguntar: "mas como? Roussel, físico e filósofo inglês que nunca esteve
em Fortaleza? ' Sim, esse mesmo, estava ele ali, presentemente vivo através de
uma célebre frase sua que diz"....os idiotas são sempre
categóricos"....
O fato que me veio à tona,
emergindo numa fração de segundos, das profundezas do sub consciente, aconteceu
na minha fase de adolescente pois, não havia completado ainda doze anos,
quando, em certa manhã a pedido de minha mãe, fui comprar algumas frutas em uma
quitanda que funcionava na citada rua, cujo prédio está preservado tal qual à
época do acontecido, talvez essa observação tenha gerado em minha mente forte
lembrança, como se o episódio que descrevo a seguir, estivesse sendo vivenciado
naquele exato momento.
Enquanto aguardava a minha vez de
ser atendido pelo balconista, observei que um dos integrantes do
estabelecimento, montava uma bicicleta que havia sido pintada com um azul
turquesa e estava com a cela e o guidon no solo e as rodas para cima.
Ao colocar o eixo da coroa
(engrenagem que movimenta a corrente), percebi que o fulano havia se enganado,
uma vez que, colocara a "coroa", e consequentemente a catraca (que é
acoplada à roda traseira), pelo lado direito; direito, mas incorreto, pois
quando a bicicleta estivesse em posição de uso, a corrente estaria pelo lado
esquerdo e seu movimento estaria invertido.
Aproximei-me do homem que montava
a bicicleta e, não sei porque, nesse momento fez-se silêncio na sala, o que era
incomum naquele ambiente sempre agitado e ruidoso, e falei sem nenhum ar
irônico, mas sim de uma forma didática: "Esta bicicleta quando estiver em
pé vai andar de marcha-a-ré". Houve discordância unânime. Eram
quatro ou cinco adultos,todos com o dobro ou o triplo da
mina idade. Um dizia: "vai nada, será que eu não sei o que
estou fazendo? Tenho certeza que está certo".Outro reforçava, dizendo
"É, tá certo, é isso mesmo".
Cada um dizia com toda categoria
que eu estava errado e eles certos. O dono da quitanda, por trás do balcão,
vendo aquela celeuma, - pois eu continuava firme na mina opinião e não me
intimidava com as manifestações deles e reafirmava que ia sim, andar de
marcha-à-ré, - interferiu dizendo, ao mesmo tempo que saía de trás do balcão,:
"vou acabar com essa teima agora, quer ver?" Desvirou a bicicleta,
montou-se nela, pois um pé no pedal e, percebendo que eu estava certo exclamou:
"Taí, bando de bestas, um menino dessa idade botou vocês todos no chinelo"
e continuou falando. Enquanto isso, peguei meus abacates e mina penca de
bananas, cujo valor já havia sido anotado na caderneta, embrulhados em jornal,
e voltei para casa bastante perplexo com tamanha idiotice, pois ainda não
conhecia Roussel, hoje, no entanto, episódio como este não me surpreende mais.
Cid Lobo.
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